Wednesday, January 20, 2010

SENSAÇÃO

SENSAÇÃO


Trata-se apenas de uma sensação, na maioria dos casos não se baseia num só facto, mas sim num conjunto (bem vago) de factos, muitas vezes percebidos apenas lateralmente. Percebidos posteriormente, inexprimidos. É por isso que se trata “apenas“ de uma sensação. É própria a cada ser que pensa e sente. É a sensação de um sonho não realizado sobre uma vida ideal num mundo ideal. Sobre um Eldorado, uma terra justa, um país próspero, um continente livre, simplesmente um paraíso. Talvez todos o imaginemos de forma diferente (embora seja possível que também aqui exista produção serial e gostos de consumo), mas a sensação é a mesma. Fazer as malas e partir, é tão fácil deixar os pormenores quotidianos que nos incomodam para descobrir o caminho desconehcido rumo ao ideal pressentido. Muitos conhecem bem esta sensação única de expectativa. Sentimo-nos alegres e curiosos. Vamos, então!
O melhor remédio para o amor à primeira vista é a segunda vista. Quando viajamos de férias ou em trabalho pela segunda vez, já não arregalamos tanto os olhos. Concentramo-nos. Descobrimos coisas mil vezes já descobertas. É que no paraíso também há problemas humanos. Os que lá vivem também têm razões para se queixar. E a maior surpresa é que eles também sonham com um paraíso – e o deles fica noutro local. E a banalidade da ideia que nos passa pela cabeça, ao tomar uma cerveja num clube de jazz em Londres ou em frente do McDonald omnipresente em Paris, quase nos impede pronumciá-la em voz alta. Não há casa como a nossa. Pronto. Sem explicações. Aqui estou de viagem, mas lá estou em casa. Aqui sou hóspede, mas lá posso ser hóspede e hospedeiro. Sentimos simplesmente vontade de voltar para casa. Ficamos com a sensação que se tem na primeria autópsia obrigatória da aula de anatomia. Sentimos que já vimos além da conta e que chegou a altura para ir a casa. Durante o caminho sentimo-nos ansiosos, a sensação pode transformar-se num sentimento tão comum, que os seus sintomas estão com certeza detalhadamente descritos em manuais.
Chegamos a casa e queremos contar tudo. Na torrente das palavras talvez não notemos que eles (os nossos compatriotas) não ouvem as nossas histórias e se o fazem, é com pouca atenção. Antes de acabarmos de falar, também nós já nos encontramos rodeados pelos problemas quotidianos. E no dia seguinte, com suspiro corajoso, voltamos na vida normal. Tropeçamos no lixo que deixaram os operários, chafurdamos no lodo até aos tornozelos nos bairros que estão sempre em obras, viajamos nos eléctricos cheios, discutimos,...
Se a memória nos serve bem, em breve chamará a nossa atenção. Começa a trazer lembranças, oferece exemplos para podermos comparar. A sensação começa a crescer e fermentar. Se escutarmos bem, sentir-nos-emos inquietos e pouco tempos depois estaremos a caminho. E voltaremos de novo. Accionados pelo pêndulo da sensação, que volta com a mesma força, apenas mudam os sinais. Atingimos a verdadeira felicidade à altura de dez mil metros acima da terra, atingímo-la no avião que nos leva ao novo paraíso dos nossos sonhos ou à nossa terra redescoberta. Afinal o paraíso e o ideal apenas os encotramos na busca. E na perspectiva oferecida à altura de dez quilómetros. O único problema é o facto que todos os voos, mesmo os mais longos, acabam com a aterragem em terra firme. Deste modo, além dos passageiros e a da sua bagagem, os aviões transportam também toneladas de sensações e sonhos não registados e não declarados. Assim sendo, não é surpreendente que de vez em quando caiam os aviões, não são da mesma opinião?



Transl. by Jana Marceliová

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